Extremismo Religioso e Cultural, quem vencerá esta Guerra?

18 mortos e mais de 100 feridos em uma região turística de Barcelona, região da Catalunha na Espanha. Covardia.

No início de janeiro de 2015 o ataque em Paris contra a revista Charlie Hebdo deixou o mundo perplexo.

Aqui no Brasil, o Estado do Rio de Janeiro acaba de pôr em funcionamento (em 17 deste mês) um número de disque-denúncia exclusivo contra preconceito, visto que na última semana houve nada menos do que 15 casos de ataques motivados por intolerância religiosa, além do fato do aumento de 40% de casos em comparação com o ano passado – http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-08/crimes-de-intolerancia-podem-ser-denunciados-pelo-disque-combate-ao. 

Milícias atacando cultos de outras religiões, minorias acuadas, teocracia no Congresso. Em setembro de 2015 uma notícia me chamou atenção: EUA – Francisco é o primeiro Papa a discursar no Congresso Americano: Tema do discurso – Extremismo. No final de semana de 13/11/2015, ficamos chocados diante da covardia, violência e terror contra a população francesa que deixou mais de 129 mortos. Desde então estamos vendo no mundo cenas de intolerância, violência, extremismo e terror. Neste momento todos estamos atônitos com a barbárie e covardia do ataque em Barcelona na Espanha dia 17/8/2017. Mais 18 mortos contabilizados nesta barbárie do terror. Não podemos como seres humanos abster-nos de expressarmos nossa indignação, pois o extremismo está crescendo em todas as religiões, e não é exclusividade de nenhuma específica, mas uma corrente que está afetando religiões diversas, denominações e inclusive governos.

Como um “Centro de Estudos”, que luta pela liberdade, pelo conhecimento e pelo respeito aos seres humanos, pela liberdade de se ter ideias e opiniões diferentes, não podemos nos calar. Fui movido a escrever estas palavras por me preocupar com a educação de crianças e jovens há mais de trinta anos. Surge a pergunta: É possível uma educação completa sem se discutir religião? Se formos discutir religião, como se deve fazer isto?

Meu intuito nesta nota é o de estabelecer um posicionamento, em meio ao extremismo religioso e cultural que o mundo está passando, não como quem quer ter uma resposta para tudo, mas para provocar um pensamento crítico em meio ao problema, bem como para demonstrar que, ensinar “religião” a crianças de diversas idades, de diferentes denominações, diferentes religiões e filosofias no mundo atual, não é uma opção, mas uma necessidade.

Mas para se fazer isto, para se navegar neste terreno sensível e delicado se exige muito critério, é requerido um critério teórico e metodológico, é necessário um método que nos faça pensar: o mundo tem que se tornar Islâmico? O planeta tem que se tornar Budista? A humanidade tem que se tornar Cristã? Todos devem se tornar Judeus, Hindus ou Espíritas?

Como proceder para que crianças e jovens possam ter uma educação Cristã, para todas as religiões e denominações? Como falar de religião para nossos jovens e crianças, filhos e alunos, diante de cenas de extremismos religiosos, e violência religiosa? Como?

Como uma ciência, sem denominação ou bandeira de instituição religiosa, ensinamos e discutimos o fenômeno religioso com nossos alunos, utilizando o referencial teórico e metodológico das Ciências da Religião. Procurando compreender o papel da religião na vida do ser humano, na família, na sociedade e na cultura. Como Cientista das Religiões e idealizador do curso de Formação Humana do Centro de Estudos Júlio Verne, e pesquisador do tema há quatorze anos, decidi me posicionar, pois acredito que nossa escola precisa dar uma resposta a esta cidade sobre o que significa uma Filosofia Cristã no Centro de Estudos Júlio Verne diante da violência e terror religioso que o mundo está atravessando.

Nosso posicionamento e resposta ao extremismo religioso e cultural.

Somos defensores da paz mundial entre as culturas, entre as religiões e filosofias do mundo. Nossa instituição preza pelo Ecumenismo. O termo provém da palavra grega οἰκουμένη (oikouméne), designando “mundo habitado”. Portanto, os povos devem lutar juntos para preservar o planeta, devem se mobilizar para acabar com a pobreza e miséria do mundo, bem como realizar esforços para levar saúde e educação para todos os povos, respeitando suas culturas, aprendendo com elas, tornando o mundo que todos vivemos mais humano, “uma casa comum” (Leonardo Boff).

Não concordo com aqueles que desejam transformar o mundo numa “monocultura”, onde os signos individuais não sejam respeitados (Yuri Lotman). Portanto não concordamos com as instituições que acreditam possuir uma verdade única e idêntica para todos os povos, não concordamos com os que desejam uniformizar a humanidade culturalmente e religiosamente, se esquecendo de que a beleza de um jardim não está na semelhança, mas nas diferenças, na diversidade de plantas, flores e frutos. Tenho como mestre Jesus homem (I João 4:9), que criticou os extremistas fariseus, e amou as prostitutas e os indesejáveis do mundo da época. Que observou atentamente os lírios do campo, as aves do céu e as crianças. E por amor, morreu. Porque Ele é Amor, Sua mensagem permanece: “Não existe amor maior do que dar a própria vida pelo próximo” (Joao 15:13). Na verdade devemos promover a vida através do amor. Amor, porque “Deus é Amor” (I João 4:8).

Este amor me faz ver beleza. Vejo beleza nas diferenças do mundo, vejo beleza nas pessoas comuns, vejo beleza numa criança jogando futebol num sábado de manhã, vejo beleza num mercado municipal no domingo, vejo beleza numa peça de teatro, vejo beleza em opiniões diferentes, vejo beleza em casamentos entre negros e brancos, entre amarelos e pardos, entre pessoas. Vejo beleza num Tango argentino, vejo beleza num Forró nordestino, vejo beleza num Samba carioca, vejo beleza no sábado, vejo beleza no domingo, vejo beleza num Fado Português, vejo beleza num Flamenco Espanhol, vejo beleza num copo de café, vejo beleza numa xícara de chá, vejo beleza na vida como ela é, beleza.

Nossa solidariedade ao povo da Catalunha – Fuerza, alegría, salud y paz. E como clamava a multidão, em catalão, na cerimônia em homenagem às vítimas: “No tinc por” (não tenho medo!)

Alexandre Medeiros
Bacharel em Administração de Empresas – UNIB
Especialista em Estudos Teológicos – UNASP
Mestre em Ciências da Religião – UMESP
Doutorando em Ciências da Religião – UMESP