Sexualidade, alegria, prazer e vida

Introdução

Em meio ao relativismo existente em nosso tempo, percebemos que muitos setores preferem abster-se de tomar posições, por ser mais seguro e confortável. Mas, como educadores, acreditamos que a informação não pode, nem deve ser suprimida dos seres humanos, mesmo que envolvam áreas que infelizmente, em muitas famílias sejam tabus. Um destes temas que trazem desconforto a muitos, é o tema da sexualidade humana. Partindo deste tema, vale lembrar que pensamos a sexualidade sem abandonar nossas raízes cristãs, ou seja, nosso pressuposto bíblico para compreender o ser humano, mas não abrimos mão das descobertas científicas na área da medicina, biologia e psicologia.

Sexualidade e informação, a melhor solução.

Pensamos o relacionamento sexual como um presente de Deus para as pessoas que se amam e escolhem ter uma vida juntos, e que no ato sexual se unem tão intimamente que se transformam em um só ser, em corpo e em objetivos (Gn. 2:24). Mas, evidentemente, sabemos que o corpo do ser humano passa na puberdade e juventude por transformações hormonais e psicológicas de grandes proporções. Entendendo o desejo sexual como algo natural, normal, fisiológico e biologicamente falando, chamamos atenção dos pais para buscarem esclarecimento para orientarem vossos filhos em relação a este tema. Partimos do pressuposto que a união matrimonial e sexual deve ser escolhida livremente, e uma vez tomada a decisão de união e vida sexual, o casal deve sair da dependência financeira dos pais e seguir organizando sua própria família, livre e independente (Marcos 10:7-8). Ou seja, que a atividade sexual deve ser exercida por pessoas que já tenham condições de assumir as consequências e responsabilidades de uma união. Cientes das dificuldades que todos estamos enfrentando nestes tempos, e com diversos problemas causados por desinformação, e entendendo o momento delicado que vivemos, onde de um lado as mídias em geral (TVs abertas e a cabo, Internet e outros veículos de comunicação) divulgam o sexo de forma deturpada e sem um controle efetivo de acessos, deixando nossas crianças e jovens em posição extremamente vulnerável. De outro lado, vemos discursos religiosos moralistas, que preferem privar os jovens de informação, a falar abertamente sobre a sexualidade humana, hormônios, desejos, vaidade masculina e feminina, beleza, prazer, colocando a atividade e os desejos sexuais sempre como algo espúrio, pecaminoso, e que deve ser evitado até em pensamento. Trazemos à baila não só o problema da gravidez indesejada, mas também os riscos de uma atividade sexual sem proteção, riscos que expõem a vida das pessoas pois, respondendo aos impulsos do corpo, muitos sem informação, privados de proteção, acabam se contaminando pelo vírus HIV, Sífilis e outros, onde os malefícios são inimagináveis. Achamos que mesmo as instituições educacionais que adotam filosofias religiosas (de qualquer religião e ou denominação), precisam atuar como orientadores de seus alunos. Compreendemos que existe uma falha grave na distribuição do conhecimento, levando muitos a sofrerem por causa da desinformação.

Uma compreensão saudável e linda sobre sexualidade humana, envolta em alegria, beleza e desejo, pode ser encontrada no livro bíblico Cântico dos Cânticos ou Cantares.

Beije-me ele com os beijos da sua boca, pois melhor é o seu amor do que o vinho […] Em ti nos regozijaremos e nos alegraremos […] Eu sou morena […] agradável…

Se tu não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres […] Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço com os colares. Enfeites de ouro te faremos […] Como és formosa, ó amiga minha! Como és formosa!…

O meu amado é meu, e eu sou dele…

Como és formosa amada minha! […] Os teus lábios são como um fio de escarlate, a tua boca é doce […] Os teus seios são como dois filhos gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios […] Favos de mel manam dos teus lábios […] Mel e leite estão debaixo da tua língua e o perfume dos teus vestidos é como a fragrância do Líbano […] Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes […] o açafrão, o cálamo e a canela […] És fonte dos jardins, poço das águas vivas…

Ah! Se viesse o meu amado para o seu jardim, e comesse os seus frutos excelentes […] Já despi a minha túnica […] O meu amado meteu a sua mão pela fresta da porta e as minhas entranhas estremeceram por amor dele […] A sua boca é muitíssimo doce; ele é totalmente desejável […] O meu amado desceu ao seu jardim […] para se alimentar nos jardins e para colher os lírios…

Quão formosos são os teus pés […] As voltas das tuas coxas são como jóias, trabalhadas por mão de artistas. O teu umbigo é como uma taça redonda que nunca falta bebida. O teu ventre é como monte de trigo cercado de lírios […] Quão formosa e quão adorável és, ó amor em delícias. A tua estrutura é semelhante a palmeira, e os teus seios aos cachos de uvas. Dizia eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus frutos. Sejam os teus seios como os cachos da vide, e o aroma da tua respiração como o das maças, os teus beijos como o bom vinho […] que se bebe suavemente…

As suas brasas são como brasas de fogo […] As muitas águas não poderiam apagar este amor, nem os rios afogá-lo […] Eu sou um muro, e os meus seios como as torres. Assim tornei-me aos olhos dele, como aquela que traz prazer…

Considerações finais

Depois dos versos acima, pensemos: Onde está a atitude de “demonizar” o desejo sexual, o prazer e a alegria sexual? Sabemos que não foi ideia de Deus colocar o sexo como algo velado, proibido, pecaminoso, sujo, que deve ser evitado até em pensamento. Quantos não conhecem alguém que teve filho antes da hora, isto mostra que o sexo seguro não foi praticado, logo o surto de crianças dando luz a crianças, atestam que as pessoas não se protegem, e se encontram vulneráveis, não só para gravidez antes da hora, mas para contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, que podem levar à morte, ou ao sofrimento durante toda a vida.

Portanto, apostamos que a informação é o nosso maior aliado no combate não só às doenças sexualmente transmissíveis (algumas letais), mas também o grave problema da gravidez indesejada na puberdade e juventude. De acordo com a UNESCO, o acesso à informação é uma liberdade fundamental e parte do direito humano básico […] O recebimento e a divulgação de informações […] são pilares da democracia, da boa governança e do Estado de Direito.

Desde já orientamos que a educação sexual deve ser ministrada pelos pais e ou responsáveis dos alunos, com o posicionamento adotado por cada família, com suas crenças e ou convicções. Mas não podemos nos omitir, como instituição particular de ensino, da discussão, tanto das doenças sexualmente transmissíveis (que podem ser devastadoras), como da gravidez em idade inapropriada não só biologicamente (organismo ainda não completamente desenvolvido no físico e no psicológico), mas também economicamente (ainda não atuante no mercado de trabalho). Portanto somos a favor da prevenção, em todos os sentidos da vida. Sendo assim, para nós, a maior arma é a informação e o conhecimento. E a primeira coisa que todos precisam saber, é que a sexualidade humana é linda, e mais, que ela foi criada por Deus. Como vimos, um poema erótico de oito capítulos se encontra nas Escrituras Sagradas, e quase nada, ou nada mesmo é falado destes livros nas igrejas cristãs. Por quê? Bem, não é porque Deus condena a sexualidade, mas sim porque os religiosos preferem abster-se de mostrar, discutir, e debater com jovens e adultos a sexualidade. É mais fácil o silêncio.

Até mesmo a vaidade feminina, por representar o desejo sexual masculino, é encaixotada, maculada, destruída (por medo dos falsos moralistas). Vejamos: Tertuliano (um dos pais da igreja cristã no século III d.C.) dizia que as mulheres que “pintam o cabelo com açafrão […] pressagiam com a sua cabeça a cor do fogo do inferno” (João Sérgio Lauand).

Contrariando o que muitos religiosos pensam, nossa escola acredita que Deus é o criador de toda a alegria e beleza, bem como criador do ser humano com todos seus desejos, suas necessidades e suas vaidades. Esta nossa atitude de trazer informação sobre doenças sexualmente transmissíveis, faz parte da indignação de posicionamentos como estes, que transformam o mundo em que vivemos em um local sórdido, transformam a vida das pessoas que humildemente querem fazer a vontade de Deus, em um viver grave e sério, onde a festa, a alegria e a sexualidade são símbolos da maldade. Logo, este mundo grave, mal, triste, pecador e sujo, necessita “passar” rapidamente, para que o Paraíso seja alcançado numa vida por vir, e enfim a felicidade chegue. Nossa sorte é que 1000 anos depois de Tertuliano, chegou Tomás de Aquino no século XIII D.C., para condenar a ideia de mundo mal, e trazer novamente a ideia de que Deus é “criador do céu, da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis” (Jean Lauand), criador inclusive da sexualidade, que gera alegria, prazer e vida. Como escreve Rubem Alves, “o demônio é grave, sério, não brinca, não dança”, e Deus pelo contrário é um brincador (Jean Lauand). Alves diz que na “sala de visitas da teologia”, discute-se apenas coisas respeitáveis e quando uma criança entra tropeçando, o pai a fulmina, com um olhar gelado. Mas nós, não podemos esquecer que “Deus é o dono da loja de brinquedos”, e foi Adão que cansou de brincar e quis levar a vida a sério. Resultado: “Ficou triste”. Não acreditamos num Deus que fulmina com seu olhar gelado, mas acreditamos num Deus que dança, brinca e sorri (Rubem Alves). “Alegrai-vos, outra vez vos digo alegrai-vos” (Filipenses 4:4).

Alexandre Medeiros

Bacharel em Administração de Empresas – UNIB

Especialista em Estudos Teológicos – UNASP

Mestre em Ciências da Religião – UMESP

Doutorando em Ciências da Religião – UMESP